quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sobre a revisão de texto

A ReVisão compartilha das seguintes ideias, extraídas do livro Edusp – Um projeto editorial (Imprensa Oficial do Estado), de Plinio Martins Filho e Marcello Rollemberg:

NECESSIDADE DA CLAREZA TEXTUAL
“O grau de interferência do revisor de texto, principalmente quando envolver a questão de estilo, deve ser proporcional à finalidade intrínseca de cada texto. Sua tarefa principal é facilitar a vida do leitor, dando unidade e clareza não só às ideias, mas ao livro (trabalho acadêmicocatálogo, manual, artigo etc.) como um todo [...].”

TODOS OS TEXTOS NECESSITAM DE REVISÃO
“É muito comum os autores, ao entregarem seus originais, afirmarem que o texto está pronto e que não necessita de revisão. Acreditar nisso seria de uma ingenuidade imperdoável. Por mais famoso e talentoso que seja o autor – e por mais perfeito que pareça o original –, será sempre necessária uma preparação antes de o texto ir para a composição. Sempre haverá, também, alguma interferência por parte de quem prepara o texto, seja para corrigir erros ortográficos, normatizar ou mesmo fazer determinadas marcações no original.”


A REVISÃO PREVINE O DESPERDÍCIO DE TEMPO E DINHEIRO
“É claro que todas as fases de preparação de um livro (trabalho acadêmicocatálogo, manual, artigo etc.) exigem muita atenção, mas com certeza a que mais exige é a revisão. E não é para menos. Um livro, impresso com muitos erros, ou mesmo com erratas, depõe contra a editora (empresa ou gráfica) e seus profissionais – além de representar um sério risco de prejuízo.”

O TEXTO PRECISA PASSAR PELA LEITURA DE, NO MÍNIMO, DOIS REVISORES
“É um trabalho cansativo, mas necessário. Qualquer livro (trabalho acadêmicocatálogo, manual, artigo etc.) deve ter, salvo raríssimas exceções, pelo menos três provas e passar, de preferência, por revisores diferentes. Todo cuidado é pouco para salvar uma obra de erros que podem se eternizar e comprometer todo um bom trabalho.”

REVISÃO DE TEXTO X ORIENTAÇÃO DE TEXTO
“E justamente por ser tão importante assim, acaba sendo incorreto chamar esse trabalho de revisão. O mais certo seria revisões. Isso porque, na verdade, são feitas pelo menos duas revisões em um original – a revisão de estilo e a ortográfica.”  

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO E DEDICAÇÃO DO REVISOR DURANTE A LEITURA DO TEXTO
“Entre as tantas regras que regem a função do revisor de estilo, algumas devem ser consideradas quase que sagradas e repetidas, como um mantra antes do início de cada trabalho: ter atenção cirúrgica, paciência bíblica, humildade franciscana e nunca, em tempo algum, corrigir por capricho – apenas por necessidade.”

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Escritura


“Se a escritura é o que acontece quando alguma coisa é feita na linguagem por um sujeito e que jamais havia sido feito assim até aquele momento, então a escritura participa do desconhecido. Ou seja, do ritmo. Ela começa aí onde cessa o saber. E como o saber é o presente do passado, poderíamos dizer que a escritura é o presente do futuro, o futuro no presente, no momento em que ela tem lugar. Por conseguinte, em certos casos, talvez para sempre, ela é um passado que continua a ter o futuro.”

MESCHONNIC, Henri. Linguagem ritmo e vida. Extratos traduzidos por Cristiano Florentino. Revisão de Sônia Queiroz. Belo Horizonte. FALE/UFMG. 2006, p. 9.   

Imagem: Lena Bergstein

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fragmento de “Psicologia da composição”, de João Cabral de Melo Neto

VII
É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.

São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos,
quando em estado de palavra.

















É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.

É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza

da palavra escrita.

sábado, 31 de março de 2012

Dicas sobre o Novo Acordo Ortográfico

Para quem busca um resumo sobre as principais mudanças trazidas com o Novo Acordo Ortográfico:

http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.php








Informações mais detalhadas sobre diferentes tópicos tratados na reforma ortográfica, como o uso do hífen e da acentuação:

http://educacao.uol.com.br/portugues/reforma-ortografica/dicas/

Já sabe tudo sobre o Novo Acordo Ortográfico? Então, pode aproveitar para testar os seus conhecimentos:

http://veja.abril.com.br/idade/testes/reforma-ortografica.shtml

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. 5.ed. São Paulo: Papirus, 1995. 115p.

Leitura na escola e na biblioteca

Para quem se interessa por educação, a obra Leitura na escola e na biblioteca, de Ezequiel Theodoro da Silva, oferece reflexões interessantes. Reunindo nove textos, alguns deles seguidos de debates, apresentados pelo autor em conferências, seminários e congressos, entre outros eventos pelo Brasil, e um capítulo com propostas de trabalho para dinamizar leituras em escolas de 1º e 2 º graus,  a obra aborda a importância da leitura, especificamente dentro da sociedade brasileira, de maneira contundente, fazendo com que o leitor reflita de que forma ela é utilizada e, muitas vezes, deixada de lado pela escola. A julgar por suas outras obras, como O ato de ler (1981) e Leitura e realidade brasileira (1983), Ezequiel possui sustentação teórica e conhecimento prático para falar do tema. 
A “crise da leitura”, analisada pelo autor, assume uma nova proporção: ela é um problema social, desde o período colonial, e, para vencê-lo, é preciso, antes de mais nada, transformar a realidade, evitando a discriminação no processo de formar novos leitores. Ezequiel cita, por duas vezes, em seu livro, o conhecido pensamento de Monteiro Lobato: “A um país se forja com homens e livros” – nada mais verdadeiro e de acordo com sua proposta de utilizar adequadamente os livros, nas escolas e bibliotecas. Em seus textos de Leitura na escola e na biblioteca, podem-se encontrar planos para uma escola mais interessada no que se passa ao seu redor, formada por professores capacitados para exercer sua profissão de maneira talentosa e bibliotecários conhecedores de seu principal papel: fornecer um acervo qualificado para os leitores, que, na maioria dos casos, não possuem condições de comprar livros.
Dentro de uma linha de pensamento corrente em seus textos, Ezequiel parte do princípio básico de que o leitor, ao compreender o texto, está abrindo seus horizontes, isto é, descobrindo não só a leitura, mas o próprio mundo que o cerca, considerando que a leitura proporciona, como poucas atividades, o conhecimento. 
A partir desta linha de pensamento, Ezequiel considera de suma importância a leitura tanto na escola quanto na biblioteca, colocando o professor e o bibliotecário, respectivamente, como figuras básicas, quase de cunho político, no acesso ao conhecimento. Sob este ponto de vista, a proliferação da leitura dependeria apenas de um contato permanente e fortalecido entre a escola, em que o professor estuda textos com seus alunos, e a biblioteca, onde o estudante vai buscar mais conhecimentos e subsídios para novas pesquisas, o que dificilmente acontece na sociedade brasileira, que é, afinal, o foco central da obra de Ezequiel.   
Para que haja mudanças, o autor considera essencial o fato de o aluno não ser visto como o culpado pelo fracasso da leitura na escola. Conforme Ezequiel, os bibliotecários devem estar conscientes de seu papel, visto que lidam com alunos das escolas e precisam estar necessariamente informados sobre qualquer tipo de assunto, a fim de montarem acervos possibilitadores de uma boa investida às pesquisas, além de simplesmente classificarem e catalogarem obras.
A biblioteca, afinal, torna-se indispensável às pessoas que não possuem condições financeiras de comprar livros, sendo o único meio de manter uma ligação sem rupturas com o conhecimento. Ela proporciona, ao mesmo tempo, os três tipos de leitura considerados no texto “O que é ler/Por que ler”, um dos mais interessantes da obra de Ezequiel, por suas colocações extremamente práticas e aproveitáveis no cotidiano escolar. O primeiro tipo é o da leitura informacional, feita em jornais, revistas e outros periódicos; o segundo, da leitura de conhecimento, relacionada diretamente com pesquisas e estudos; e o terceiro, da leitura de prazer estético, encontrada na poesia e em outros gêneros literários, sem dúvida a mais prejudicada no ambiente escolar, pelas obrigações que oferece, entre as quais, mais comuns, estão o tempo predeterminado para leitura e a ficha posterior de leitura.
Por isso, Ezequiel clama tanto pela união entre escola e biblioteca. Uma não pode viver sem a outra, dentro de um universo democrático, onde o conhecimento não pode ser negado. E por tudo isso sua obra é tão importante e indispensável, sobretudo àqueles que não conseguem entender por que, na estrutura social brasileira, alguns sempre entendem e se informam mais do que outros. Em suma, a obra é um convite à leitura da sociedade, indispensável para a construção de novas propostas e posturas, algumas delas apresentadas por Ezequiel, é bom lembrar, no último capítulo do livro.

domingo, 27 de novembro de 2011

Poema de Murilo Mendes

TEXTO DE CONSULTA

                              1

A página branca indicará o discurso
Ou a supressão do discurso?

A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?

O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta – o texto?

O texto é o contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?

O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?

                             2

O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade - texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirurgião

O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstracto
Ou concretoabstrato?

O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?

Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.

                          3

O texto é micromenabó do poeta
Ou o poeta o macromenabó do texto?


                          













                          4
   
A palavra nasce-me
               fere-me
               coisa-me
               ressuscita-me

                          5

Serviremos a metáfora?
Arquivaremos a?

Metáfora: instrumento máximo;
                                           CASSIRER.

A própria linguagem do homem.
                          ORTEGA Y GASSET

Invenção / translação.

                           6

A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mais difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?

Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?

                           7

Existe um texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os textos alheios?

Giro                    NÉ POUR D’ÉTERNELS
Com o texto a tiracolo
                                           PARCHEMINS

Sem o texto
                                            (MALLARMÉ)

Não decifro o itinerário.

Toda palavra é adâmica:
Nomeia o homem
Que nomeia a palavra.

Querendo situar objetos
Construímos um elenco vertical.
Enumeração caótica?
Antes definição.
Catalogar, próprio do homem.

                             8

Morrer: perder o texto
Perder a palavra / o discurso

Morrer: perder o texto
Ser metido numa caixa
              Com testo
              Sem texto.

                             9

Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.

O texto-coisa me espia
Com o olho de outrem.

Talvez me condene ao ergástulo.

O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Poema de Carlos Drummond de Andrade

A PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.















Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.